quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Análise do Discurso ajuda a compreender o lado oculto das falas e textos

 
Luís Eduardo S. Caricatte

(AECA CEUNSP Ciência) Quando se fala em Análise do Discurso, todos logo pensam em uma avaliação de uma fala planejada, mas o que nem todo mundo sabe é que esta metodologia de pesquisa engloba todos os tipos de falas e escritas, não apenas as planejadas. A análise do discurso é uma prática da Linguística no campo da Comunicação, e consiste em analisar a estrutura de um texto para, a partir dela, compreender as construções ideológicas nele presentes.

Quem explica melhor o assunto é o professor Élcio Aloísio Fragoso, do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP). Graduado em Letras em 1993, Fragoso especializou-se em 1996, concluiu o mestrado sobre Análise de Discurso em 2001 e fez o doutorado, sobre o mesmo assunto, em 2006, sempre na UNICAMP.

A linha de Análise do Discurso em que o professor Élcio trabalha surgiu na França, entre as décadas de 1960 e 1970. Ela foi proposta por Michel Pêcheux, com a ideia de produzir um espaço de reflexão que colocasse em questão a prática elitizada e isolada das Ciências Humanas da época. No final dos anos 1970, a professora universitária Eni Orlandi introduziu a Análise de Discurso no Brasil. Todos os trabalhos feitos aqui são graças a ela.

A metodologia se deu a partir da fusão de três áreas: a Psicanálise, a Linguística e o Marxismo. Da primeira, a Análise do Discurso pegou o conceito de sujeito. Para ambas, o sujeito (qualquer pessoa) é afetado pelo inconsciente. A Psicanálise diz que ninguém consegue ter acesso a sua parte inconsciente sem auxílio externo.

Com relação à Linguística, a metodologia tem a função de fazer uma crítica a ela, ou seja, ir além da questão formal. A Análise do Discurso serve para interpretar o tipo de linguagem usada em um texto ou fala.

Do Marxismo, a Análise do Discurso busca o conceito da determinação pelo contexto histórico. Por exemplo, durante o Romantismo, no século XVIII, os pintores eram afetados por um momento histórico e isto fornecia discursos (inspiração) para que eles fizessem suas obras.

Explicadas estas três bases, o professor Fragoso comenta sobre a falta de conhecimento das pessoas sobre a Análise do Discurso: “Eu acho que, atualmente, muitas pessoas têm uma visão pragmática sobre este assunto, elas pensam que sabem, o tempo todo, o que estão dizendo.”

Mas o Fragoso ameniza dizendo que, por se tratar de teorias sofisticadas, não se pode exigir todo esse conhecimento sobre Análise de Discurso. O próprio professor disse que no dia-a-dia, ele não fica o tempo todo analisando cada frase que fala ou lê, até porque ninguém aguentaria fazer isso durante muito tempo. Ele conta que, durante o tempo em que passa dando aulas no CEUNSP, ele prefere dar o conteúdo teórico a prático, porque, segundo ele, nem todos os alunos têm paciência para ter aulas práticas desse assunto.

O professor afirma que não pretende escrever nenhum livro sobre o assunto. “Sinceramente, eu penso que hoje em dia não se tem mais essa história de ter de escrever um livro só porque fiz um doutorado. A sociedade já não é tão escrita, ela prefere tudo digitalizado.” E conclui dizendo que a Análise do discurso “é uma disciplina que quebra as barreiras entre as outras disciplinas, ou seja, ela pode ser aplicada em qualquer uma delas.”

Luís Eduardo S. Caricatte é estudante de
Jornalismo no Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio

Élcio Fragoso é professor no CEUNSP

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Celular emite radiação e pode causar danos no longo prazo


Fernando Santos

(AECA CEUNSP Ciência) Antes era um “tijolão”. Hoje, existem os ultrafinos e com milhares de funções. Os aparelhos celulares provocaram uma revolução na comunicação humana e atualmente são indispensáveis, tanto que é como se fizessem parte do nosso corpo. Não largamos dele para nada. Está no bolso, na mão, na bolsa, debaixo do travesseiro enquanto dormimos. No entanto, esses aparelhos emitem radiação e podem fazer mal à saúde, até mesmo provocar câncer.

Em sua dissertação de mestrado a coordenadora dos cursos de Engenharia Elétrica e Mecatrônica do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP), Scheila Guedes Garcez, mostra que essa exposição e proximidade com aparelhos de celular podem causar, ainda que no longo prazo, danos à saúde.

A pesquisa sobre a interação de campos eletromagnéticos e tecidos biológicos foi concluída em 2005. Envolve a área de formação da professora, a engenharia, e parte também para a área biológica.

“Temos uma taxa de absorção específica que é o tanto do campo eletromagnético que é absorvido pelo tecido. Isso pode ser convertido em aquecimento, que é o princípio do micro-ondas. Eu não quantifiquei o aquecimento, apenas a taxa de absorção pelos tecidos”, descreve a professora. Scheila conta que queria justamente medir a quantidade que era absorvida pelos tecidos biológicos e observou taxas bem elevadas que, de acordo com ela, podem ser prejudiciais à saúde.

Segundo a professora, hoje em dia não há como provar se existe o risco de adquirir doenças devido à exposição excessiva, porque essa é a primeira geração a utilizar o celular. “A FDA, uma federação americana, no ano passado já lançou um artigo falando que o celular pode, sim, causar câncer. Foi contra a tese da indústria do celular que dizia que o aparelho não faz mal à saúde. Isso abriu portas para a dúvida”, conta a pesquisadora.

Na pesquisa, Scheila constatou que quanto maior o tempo de exposição maior pode ser o dano. Uma forma de se precaver é, de acordo com ela, evitar ter o celular próximo ao corpo. “Uma medida que já foi tomada são os celulares com fone de ouvido com o microfone acoplado. Isso já tira o celular da cabeça e colocar um pouco mais distante, assim a exposição é menor”, explica.
A pesquisa desenvolvida revelou também que essa radiação é liberada sempre, basta o aparelho de celular estar ligado, pois, a todo o momento a torre de transmissão de sinal está enviando ondas para o celular. “Esse seria o motivo da preocupação maior já que a emissão de radiação é constante”, alerta.

A docente conta que a exposição precoce é ainda mais preocupante porque a caixa craniana de uma criança é mais fina e frágil que a de um adulto e a exposição é basicamente na cabeça. “A onda consegue penetrar com mais facilidade”, explica.

Essa foi uma pesquisa preliminar, na qual a professora mostrou que a exposição acontece e pode criar algum tipo de dano. A descoberta feita foi que há um aumento de temperatura quando o aparelho de celular é utilizado por muito tempo, o que hoje em dia é bastante comum. “As pessoas sentem dor de cabeça, a orelha fica quente. Existem alguns artigos que mostram quebra do DNA através de radiação. Essa pesquisa não é feita na frequência e nem na potência do celular, mas já foi provado que há em frequências maiores.”

Esse dilema do malefício ou não ficará para ser desvendado nos próximos anos. Seriam danos progressivos? O que isso vai fazer ao longo dos anos? Essa é a grande dúvida. “Daqui a alguns anos começaremos a descobrir o que está acontecendo com o uso do celular”, finaliza.

Fernando Santos é estudante de Jornalismo
no Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP)

Scheila Garcez coordena cursos de Engenharia no CEUNSP








domingo, 21 de outubro de 2012

Uma forma diferente de ensinar



Larissa Santos

(AECA CEUNSP Ciência)
Em sala de aula, transformar pessoas, e, consequentemente, transformar o mundo, é o que propõe a professora Érica Cristiane Belon Galvão, 39 anos, bacharel em Análise de Sistemas pelo Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP), em seu mestrado que será defendido ainda neste ano na UNISAL, sob o título Aprendizagem Cooperativa e Comunidades de Práticas: possibilidades para a Educação Sociocomunitária.

Érica conta que o papel do professor não perde a importância, mas ganha novas dimensões e maior responsabilidade, para aproximar o individuo da realidade. Porém, salienta a necessidade que este profissional do conhecimento tem de compreender que já não é suficiente simplesmente juntar os alunos e propor uma determinada tarefa.

A intenção da professora é uma nova configuração social, para que a relação indivíduo, sociedade e trabalho se desenvolvam de maneira sustentável. “Atualmente as pessoas correm freneticamente para estar minimamente informadas. A educação tradicional preza pela competição e pelo aprendizado individual, características que são levadas para fora dos muros da escola. No entanto, quando estes mesmos sujeitos chegam ao mercado de trabalho, são obrigados a trabalhar em equipe, entender e conviver com as opiniões e diferenças alheias”, explica.

A sociedade encontra-se tecnologicamente unida, porém física e humanamente afastada. As pessoas recebem diplomas na escola, lidam com informações objetivas, mas não sabem ousar, criar, correr riscos calculados. Elas sabem lidar com aplausos e desesperam-se diante das vaias. Andam com segurança quando tudo dá certo, mas recuam quando não veem o horizonte e não sabem o que fazer quando tombam no meio do caminho. A aprendizagem cooperativa pode ser uma forma de contribuição para a educação pós-moderna, estendendo a organização dos processos de aprendizagem para a coletividade, meio para favorecer a autonomia formativa dos sujeitos além das suas habilidades sociais.

Para a docente, um dos maiores desafios está em subsidiar os professores que atuam no ensino superior, conscientizando-os da necessidade de transformação da prática docente e fomentando o olhar para as metodologias ativas e as suas implicações favoráveis no processo de desenvolvimento da autonomia e do pensamento crítico do educando. Com o propósito de transformação e emancipação do sujeito e consequentemente da sociedade em que atua.

Larissa Santos é estudante de Jornalismo
do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP)


Érica Galvão fala sobre as possibilidades da Educação

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Professora resgata notícia perdida no tempo

Fernando Santos

(AECA CEUNSP Ciência) Ter que fazer uma investigação minuciosa para encontrar críticas jornalísticas que já foram dadas como perdidas no tempo e na história. Parece filme ou tarefa de detetive. Mas, foi o que a professora do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP), Angela Maria Gonçalves da Costa, 37, fez em sua tese de doutorado em teoria e história literária pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), em 2006. O trabalhou levou o título de “Uma trajetória do esquecimento - o poema A Nebulosa, de Joaquim Manuel de Macedo, e sua recepção critica”.

Tudo começou do desejo de resgatar o poema que ficou esquecido. A professora conta que antes de ser romancista o autor foi poeta e depois que escreveu “A Moreninha” caiu no gosto popular. “Ficou romântico e se tornou o queridinho dos escritores. No entanto, a sua poesia ficou esquecida”, lembra Angela. 

“Quando lançada em 1857, a poesia A Nebulosa fez grande sucesso e os jornais comentavam a obra. Com o passar dos anos, por volta da década de 1860, como ele já havia escrito A Moreninha na década de 1840 e caiu no gosto popular, começou a escrever romances um após o outro e esqueceram-se do poema dele”, conta. A tese da professora traz à tona a importância de Macedo não só como romancista, mas também como poeta.

A pesquisa trabalha com a fortuna crítica da obra. Angela resgatou tudo o que foi falado sobre a poesia, da primeira notícia que, de acordo com ela, foi através do Correio Mercantil, até a última que se tem a respeito em jornais, revistas e críticas literárias.

No século XIX era através dos jornais que chegavam informações e também as obras literárias. Segundo a professora, as críticas jornalísticas faziam trocas de elogios entre os autores para promover a obra de cada um, os panegíricos.

No inicio do trabalho a professora conta que foi difícil encontrar a crítica de Bernardo Guimarães que não fazia elogios à obra e sim uma análise, mas que havia desaparecido. “Eu sabia pelas pistas que ela estava em um jornal chamado A Atualidade do Rio de Janeiro, fui até a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro à procura do jornal, mas ele não existia mais. Procurei em Minas Gerais porque o Bernardo Guimarães é de lá, mas também não encontrei”, relata.

Voltou para a Unicamp e a orientadora indicou um arquivo de jornais microfilmados. Foi que encontrou as seis críticas feitas no jornal A Atualidade. “Foram documentos essenciais e inéditos que sem eles não havia como fazer uma crítica do romantismo brasileiro hoje”, comenta.

De acordo com a professora esse esquecimento se deve ao fato de que era muito mais interessante para os leitores as histórias que apresentavam verossimilhança com a vida delas do que ler poesia, que é mais difícil e requer mais atenção do leitor. “É como as novelas hoje”, compara.

A professora revela que vai fazer com que a memória do poema não seja esquecida. “Estou fazendo uma reedição, sai esse ano. É A Nebulosa, com uma introdução minha, pela Ateliê Editorial, para um público universitário.”

A professora finalmente cumprirá com o desejo de resgatar o poema esquecido e A Nebulosa vai voltar às estantes.

Fernando Santos é estudante de Jornalismo
 do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP)

Angela Gonçalves da Costa é doutora em Teoria Literária





segunda-feira, 28 de maio de 2012

Cobertura da Folha e do Estadão sobre Fórum Social é tema de estudo de cientista político

Diana Locatelli
Alex Lecovic

(AECA CEUNSP Ciência) Enquanto ocorria o FEM (Fórum Econômico Mundial),em Davos, na Suíça, entre 23 e 28 de janeiro de 2003, era realizado, em Porto Alegre (RS),o FSM (Fórum Social Mundial). Os debates em cada continente eram divergentes e chamaram a atenção não apenas pela simultaneidade, mas pela forma e conteúdo da cobertura dos meios de comunicação.

Para o jornalista, sociólogo e cientista político João José Negrão, o que mais chamou a atenção foi o fato de os dois eventos acontecerem ao mesmo tempo e as abordagens distintas que fizeram dois dos mais importantes jornais do Brasil, a Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo, sobre os fóruns. Em sua tese de doutorado defendida em 2005, na PUC-SP, Negrão ressalta inicialmente que é preciso entender as visões de mundo das duas empresas de comunicação, para que depois seja possível analisar se houve tendência para uma ou para outra ideologia, discutida nos dois eventos. “A visão de mundo da Folha e do Estadão são muito mais próximas da visão conservadora do FEM do que a do FSM”, diz Negrão sobre a relação entre o material veiculado em ambos os jornais.

O professor explica ainda que, pela estrutura dos textos publicados, é possível notar que tanto um jornal quanto o outro levaram as notícias sobre o fórum de Davos mais a sério, ou seja, noticiaram com maior “responsabilidade” pelo efeito que causaria. Negrão lembra ainda que não dá para medir o impacto das matérias apenas pelo número de linhas, fotos ou tamanho da notícia publicada. 
Segundo ele, seria uma avaliação muito superficial, pois a qualidade não pode ser medida pura e simplesmente pela quantidade e cita o grande número de matérias que são veiculadas diariamente sobre as celebridades, e quantas delas são, de fato, positivas.

Questionado sobre a diferença de poder da mídia mundial e da mídia brasileira, o sociólogo acredita que essa diferença não exista e justifica, dizendo: “O que reforça isso são as maneiras de ver o mundo. Com exceção de um ou outro veículo, a mídia mundial também é oligopolizada. São grandes empresas que estão mergulhadas no mesmo sistema e além disso, elas têm outros interesses, financeiros ou de investimentos. O jornalismo mundial é um grande ator da política, mais até que alguns parlamentares.” Para o professor, geralmente são os políticos que fazem o jogo de interesse das grandes corporações midiáticas, e não o contrário.

O FEM propõe assuntos de ordem política e financeira e, portanto, é tratado como prioridade. Já o FSM apresenta discussões mais “tranquilas” sobre as grandes questões sociais que nos envolvem e por isso, na escala de importância dos projetos, fica em segundo plano na visão dos jornais. Para Negrão, essa concepção só pôde ser construída depois de estudar os fóruns a cada ano.

Em síntese, a tese do professor João explica que os fóruns podem ser vistos como “projetos de mundo”, projetos para a humanidade. Essas ideias são consolidadas pelos próprios slogans de cada fórum, já que um apresenta o social e o outro a economia. “Um é um projeto de mundo possível, o outro, conservador e concentrador de renda, que se dá pelo capitalismo financeiro num grande encontro de magnatas em Davos. E nem são os magnatas da produção, mas os das finanças mesmo”, afirma.

Com essa explanação sobre os congressos, o professor fala ainda que não se pode esquecer que esses assuntos estão diretamente ligados à vida de cada cidadão. Para ele, pensar que tais discussões estão distantes do cotidiano é um ledo engano. “Não acompanhar isso ou achar que não tem nada a ver com a gente, é de certa forma, um analfabetismo político”, afirma Negrão e complementa dizendo que a discussão faz-se necessária porque nem todo político é igual, nem todo partido político é igual e nem toda mudança social vem de cima para baixo. O que precisa é a conscientização e a maior atenção em relação a esses assuntos que nos preparam para entender mais claramente as modificações e alterações na sociedade.

Segundo o professor, podemos não ser partidários, mas somos, todos, políticos. Então, depois de tudo, chega-se a conclusão de que alienar-se da política é abrir mão e deixar que os outros decidam parte significativa da sua vida e do que lhe diz respeito. É preciso participar para não ser taxado de “mais um”.

A tese de Negrão, intitulada "O jornalismo na construção da hegemonia", pode ser encontrada em www.bocc.ubi.pt.

Diana Locatelli e Alex Lecovic são estudantes
do Curso de Jornalismo do Centro Universitário
Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP)

João José Negrão é jornalista e doutor em Ciência Política


São Paulo e Pernambuco e os conceitos de pobreza e riqueza na história do Brasil


Larissa Santos 


(AECA CEUNSP Ciência) Pobreza e riqueza. Vemos isso no nosso dia a dia. Uns tem mais outros tem menos. Mas como era tratada essa questão por volta do século XVII, entre as cidades de São Paulo e Pernambuco?

Sobre este tema se debruçou a professora do Ceunsp Milena Fernandes Maranho, 36 anos, licenciada e bacharel em História desde 1997, pelo IFCH / UNICAMP. Ela estudou a questão em seu doutorado, defendido na USP, em 2006, que teve como título: “O moinho e o engenho: São Paulo e Pernambuco em diferentes contextos e atribuições no Império colonial português (1580 – 1720).”

Segundo Milena, o objetivo do doutorado foi a apresentação de um contraponto à historiografia que versa sobre a constante comparação entre São Paulo e Pernambuco durante o período colonial da História do Brasil. A região paulista é geralmente associada à “pobreza geral", enquanto a Capitania de Pernambuco é vista como sendo de “riqueza ilimitada” e de muito mais importância para a coroa portuguesa. A historiadora, além disso, busca a desconstrução de uma ideia que colocava essas regiões em uma situação de quase ausência de contato, já que se acreditava serem mais constantes as relações entre o Nordeste do Brasil e Angola, devido ao tráfico africano, do que com São Paulo, “isolada e independente”.

A professora explica que, durante a pesquisa, encontrou vários momentos nos quais São Paulo auxiliou Pernambuco com o envio de mantimentos, principalmente farinha. Eram momentos críticos, como a Invasão holandesa ocorrida entre 1630 e 1654 e a guerra dos bárbaros, que tiveram longa duração.

Milena relata que no século XIX, com as discussões sobre qual região tinha maior destaque na história do Brasil, para enfim comandá-lo politicamente, o debate versava sobre os primórdios do sentimento de nacionalidade, de “pertencimento” à nação, dos brasileiros. São Paulo, com sua pobreza, mas com “homens rudes” que haviam desbravado o território, ou Pernambuco, com sua riqueza, que havia oferecido as condições para o desenvolvimento do Brasil.

Em cada época temos um produto que garantia o status de rico ou pobre. ’’Os metais sempre foram os preferidos e os mais procurados, mas o açúcar passa a ter uma importância cada vez maior no mercado europeu, principalmente a partir do final do século XVI, devido a condições econômicas que envolviam a expansão comercial europeia e a entrada de novos produtos advindos do Oriente”, diz Milena.

Por outro lado, São Paulo chegou a produzir açúcar entre o final do século XVI e o início do XVII, mas devido à distância do Porto de Santos, esse açúcar perdia em qualidade se comparado ao de Pernambuco e Bahia. “Ha também o ouro que foi encontrado na região que hoje conhecemos por Minas Gerais, e esta passou a ser o foco das atenções a partir do século XVIII”, ressalta.

Mais tarde, é o café que despontará no cenário econômico brasileiro, “mas isso não quer dizer que ‘ciclos econômicos’ tenham existido, já que o açúcar nunca deixou de ser produzido, o ouro foi encontrado em menor quantidade antes do século XVIII e neste mesmo século já temos produção de café em Pernambuco’’, explica a historiadora.

Milena questiona a determinação – que muitos veem -- destas diferenças na conformação da nossa sociedade nos dias de hoje. ‘’ O que eu costumo dizer para os meus alunos é que não podemos atribuir a culpa de características de nosso tempo às gerações passadas. Se herdarmos certos legados, como a burocracia excessiva, por exemplo, cabe a nós mesmos modificarmos essa situação. Cada sociedade deve ser entendida em sua própria época’’, finaliza. 


Larissa Santos é estudante do curso de Jornalismo do Centro Universitário
Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP)


Milena Fernandes Maranho é doutora em História

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Bagaço de cana pode virar energia


Aline Xavier
Fernando Santos


(AECA CEUNSP Ciência) Todo lixo deve ser descartado, certo? Errado. Nem todo lixo tem que necessariamente ser descartado. Dá para reaproveitar e produzir coisas para inúmeras finalidades. O professor do Ceunsp, Elio Ferrato, 62 anos, mostra que isso é possível. O assunto – regulação do uso do bagaço de cana-de-açúcar e seus derivados – foi tema de seu doutorado em engenharia de produção.

Segundo Ferrato, o objetivo da pesquisa foi alertar a comunidade científica, autoridades e sociedade para que houvesse políticas públicas para defesa futura do uso do bagaço da cana. De acordo com ele, o produto é utilizado para fazer etanol de segunda geração e na indústria autoquímica, como base para a produção de materiais variados. E pode ser muito usado também em outras aplicações diferenciadas, como na construção civil e na indústria moveleira. “O bagaço passou a ter um valor econômico e industrial muito superior”, conta Ferrato.

O docente cita ainda o exemplo do Rio de Janeiro, onde a prefeitura comprou coletores de lixo produzidos a partir do bagaço da cana.

Quanto aos custos, o professor diz que é relativamente barato fazer essa transformação do bagaço de cana. “Na minha tese de doutorado eu falei sobre custos na transformação em eletricidade e, me auxiliando de estudos de outro estudioso da USP, foi comprovado que era um bom negócio transformar o bagaço.”

Ferrato diz que o governo deve ser o grande interessado para que esse projeto seja posto em prática. Mas, de acordo com ele, do ponto de vista estratégico, ainda faltam incentivos. “Nesses primeiros meses do ano importamos álcool produzido a partir do milho dos Estados Unidos, isso é uma vergonha. O Brasil possui uma capacidade muito grande de produção de cana-de-açúcar e produção de açúcar e álcool ter que importar etanol não é algo a se orgulhar.”
A queima do bagaço de cana polui o ambiente, mas o pesquisador afirma que a produção do álcool de segunda geração é mais benéfica ao ambiente. “É sem duvida 80% menos poluidor do que a queima da cana. Isso seria altamente benéfico pra sociedade.”

Para realizar a pesquisa, o professor fez algumas entrevistas, inclusive com o ex-ministro da agricultura Roberto Rodrigues, esteve em plantações de cana-de-açúcar, em usinas, conversou com pessoas que entendiam do assunto e adquiriu informações em bibliografias de vários autores.

Existe uma grande chance de no futuro reaproveitarmos o lixo. Do lixo podemos gerar energia elétrica também, é possível que no futuro sejamos adaptados para transformar todo o lixo em uma outra coisa”, finaliza.

Aline Xavier e Fernando Santos são estudantes do
Curso de Jornalismo do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio

Elio Ferrato é doutor em Engenharia
de Produção e professor no Ceunsp