segunda-feira, 28 de maio de 2012

Cobertura da Folha e do Estadão sobre Fórum Social é tema de estudo de cientista político

Diana Locatelli
Alex Lecovic

(AECA CEUNSP Ciência) Enquanto ocorria o FEM (Fórum Econômico Mundial),em Davos, na Suíça, entre 23 e 28 de janeiro de 2003, era realizado, em Porto Alegre (RS),o FSM (Fórum Social Mundial). Os debates em cada continente eram divergentes e chamaram a atenção não apenas pela simultaneidade, mas pela forma e conteúdo da cobertura dos meios de comunicação.

Para o jornalista, sociólogo e cientista político João José Negrão, o que mais chamou a atenção foi o fato de os dois eventos acontecerem ao mesmo tempo e as abordagens distintas que fizeram dois dos mais importantes jornais do Brasil, a Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo, sobre os fóruns. Em sua tese de doutorado defendida em 2005, na PUC-SP, Negrão ressalta inicialmente que é preciso entender as visões de mundo das duas empresas de comunicação, para que depois seja possível analisar se houve tendência para uma ou para outra ideologia, discutida nos dois eventos. “A visão de mundo da Folha e do Estadão são muito mais próximas da visão conservadora do FEM do que a do FSM”, diz Negrão sobre a relação entre o material veiculado em ambos os jornais.

O professor explica ainda que, pela estrutura dos textos publicados, é possível notar que tanto um jornal quanto o outro levaram as notícias sobre o fórum de Davos mais a sério, ou seja, noticiaram com maior “responsabilidade” pelo efeito que causaria. Negrão lembra ainda que não dá para medir o impacto das matérias apenas pelo número de linhas, fotos ou tamanho da notícia publicada. 
Segundo ele, seria uma avaliação muito superficial, pois a qualidade não pode ser medida pura e simplesmente pela quantidade e cita o grande número de matérias que são veiculadas diariamente sobre as celebridades, e quantas delas são, de fato, positivas.

Questionado sobre a diferença de poder da mídia mundial e da mídia brasileira, o sociólogo acredita que essa diferença não exista e justifica, dizendo: “O que reforça isso são as maneiras de ver o mundo. Com exceção de um ou outro veículo, a mídia mundial também é oligopolizada. São grandes empresas que estão mergulhadas no mesmo sistema e além disso, elas têm outros interesses, financeiros ou de investimentos. O jornalismo mundial é um grande ator da política, mais até que alguns parlamentares.” Para o professor, geralmente são os políticos que fazem o jogo de interesse das grandes corporações midiáticas, e não o contrário.

O FEM propõe assuntos de ordem política e financeira e, portanto, é tratado como prioridade. Já o FSM apresenta discussões mais “tranquilas” sobre as grandes questões sociais que nos envolvem e por isso, na escala de importância dos projetos, fica em segundo plano na visão dos jornais. Para Negrão, essa concepção só pôde ser construída depois de estudar os fóruns a cada ano.

Em síntese, a tese do professor João explica que os fóruns podem ser vistos como “projetos de mundo”, projetos para a humanidade. Essas ideias são consolidadas pelos próprios slogans de cada fórum, já que um apresenta o social e o outro a economia. “Um é um projeto de mundo possível, o outro, conservador e concentrador de renda, que se dá pelo capitalismo financeiro num grande encontro de magnatas em Davos. E nem são os magnatas da produção, mas os das finanças mesmo”, afirma.

Com essa explanação sobre os congressos, o professor fala ainda que não se pode esquecer que esses assuntos estão diretamente ligados à vida de cada cidadão. Para ele, pensar que tais discussões estão distantes do cotidiano é um ledo engano. “Não acompanhar isso ou achar que não tem nada a ver com a gente, é de certa forma, um analfabetismo político”, afirma Negrão e complementa dizendo que a discussão faz-se necessária porque nem todo político é igual, nem todo partido político é igual e nem toda mudança social vem de cima para baixo. O que precisa é a conscientização e a maior atenção em relação a esses assuntos que nos preparam para entender mais claramente as modificações e alterações na sociedade.

Segundo o professor, podemos não ser partidários, mas somos, todos, políticos. Então, depois de tudo, chega-se a conclusão de que alienar-se da política é abrir mão e deixar que os outros decidam parte significativa da sua vida e do que lhe diz respeito. É preciso participar para não ser taxado de “mais um”.

A tese de Negrão, intitulada "O jornalismo na construção da hegemonia", pode ser encontrada em www.bocc.ubi.pt.

Diana Locatelli e Alex Lecovic são estudantes
do Curso de Jornalismo do Centro Universitário
Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP)

João José Negrão é jornalista e doutor em Ciência Política


São Paulo e Pernambuco e os conceitos de pobreza e riqueza na história do Brasil


Larissa Santos 


(AECA CEUNSP Ciência) Pobreza e riqueza. Vemos isso no nosso dia a dia. Uns tem mais outros tem menos. Mas como era tratada essa questão por volta do século XVII, entre as cidades de São Paulo e Pernambuco?

Sobre este tema se debruçou a professora do Ceunsp Milena Fernandes Maranho, 36 anos, licenciada e bacharel em História desde 1997, pelo IFCH / UNICAMP. Ela estudou a questão em seu doutorado, defendido na USP, em 2006, que teve como título: “O moinho e o engenho: São Paulo e Pernambuco em diferentes contextos e atribuições no Império colonial português (1580 – 1720).”

Segundo Milena, o objetivo do doutorado foi a apresentação de um contraponto à historiografia que versa sobre a constante comparação entre São Paulo e Pernambuco durante o período colonial da História do Brasil. A região paulista é geralmente associada à “pobreza geral", enquanto a Capitania de Pernambuco é vista como sendo de “riqueza ilimitada” e de muito mais importância para a coroa portuguesa. A historiadora, além disso, busca a desconstrução de uma ideia que colocava essas regiões em uma situação de quase ausência de contato, já que se acreditava serem mais constantes as relações entre o Nordeste do Brasil e Angola, devido ao tráfico africano, do que com São Paulo, “isolada e independente”.

A professora explica que, durante a pesquisa, encontrou vários momentos nos quais São Paulo auxiliou Pernambuco com o envio de mantimentos, principalmente farinha. Eram momentos críticos, como a Invasão holandesa ocorrida entre 1630 e 1654 e a guerra dos bárbaros, que tiveram longa duração.

Milena relata que no século XIX, com as discussões sobre qual região tinha maior destaque na história do Brasil, para enfim comandá-lo politicamente, o debate versava sobre os primórdios do sentimento de nacionalidade, de “pertencimento” à nação, dos brasileiros. São Paulo, com sua pobreza, mas com “homens rudes” que haviam desbravado o território, ou Pernambuco, com sua riqueza, que havia oferecido as condições para o desenvolvimento do Brasil.

Em cada época temos um produto que garantia o status de rico ou pobre. ’’Os metais sempre foram os preferidos e os mais procurados, mas o açúcar passa a ter uma importância cada vez maior no mercado europeu, principalmente a partir do final do século XVI, devido a condições econômicas que envolviam a expansão comercial europeia e a entrada de novos produtos advindos do Oriente”, diz Milena.

Por outro lado, São Paulo chegou a produzir açúcar entre o final do século XVI e o início do XVII, mas devido à distância do Porto de Santos, esse açúcar perdia em qualidade se comparado ao de Pernambuco e Bahia. “Ha também o ouro que foi encontrado na região que hoje conhecemos por Minas Gerais, e esta passou a ser o foco das atenções a partir do século XVIII”, ressalta.

Mais tarde, é o café que despontará no cenário econômico brasileiro, “mas isso não quer dizer que ‘ciclos econômicos’ tenham existido, já que o açúcar nunca deixou de ser produzido, o ouro foi encontrado em menor quantidade antes do século XVIII e neste mesmo século já temos produção de café em Pernambuco’’, explica a historiadora.

Milena questiona a determinação – que muitos veem -- destas diferenças na conformação da nossa sociedade nos dias de hoje. ‘’ O que eu costumo dizer para os meus alunos é que não podemos atribuir a culpa de características de nosso tempo às gerações passadas. Se herdarmos certos legados, como a burocracia excessiva, por exemplo, cabe a nós mesmos modificarmos essa situação. Cada sociedade deve ser entendida em sua própria época’’, finaliza. 


Larissa Santos é estudante do curso de Jornalismo do Centro Universitário
Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP)


Milena Fernandes Maranho é doutora em História

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Bagaço de cana pode virar energia


Aline Xavier
Fernando Santos


(AECA CEUNSP Ciência) Todo lixo deve ser descartado, certo? Errado. Nem todo lixo tem que necessariamente ser descartado. Dá para reaproveitar e produzir coisas para inúmeras finalidades. O professor do Ceunsp, Elio Ferrato, 62 anos, mostra que isso é possível. O assunto – regulação do uso do bagaço de cana-de-açúcar e seus derivados – foi tema de seu doutorado em engenharia de produção.

Segundo Ferrato, o objetivo da pesquisa foi alertar a comunidade científica, autoridades e sociedade para que houvesse políticas públicas para defesa futura do uso do bagaço da cana. De acordo com ele, o produto é utilizado para fazer etanol de segunda geração e na indústria autoquímica, como base para a produção de materiais variados. E pode ser muito usado também em outras aplicações diferenciadas, como na construção civil e na indústria moveleira. “O bagaço passou a ter um valor econômico e industrial muito superior”, conta Ferrato.

O docente cita ainda o exemplo do Rio de Janeiro, onde a prefeitura comprou coletores de lixo produzidos a partir do bagaço da cana.

Quanto aos custos, o professor diz que é relativamente barato fazer essa transformação do bagaço de cana. “Na minha tese de doutorado eu falei sobre custos na transformação em eletricidade e, me auxiliando de estudos de outro estudioso da USP, foi comprovado que era um bom negócio transformar o bagaço.”

Ferrato diz que o governo deve ser o grande interessado para que esse projeto seja posto em prática. Mas, de acordo com ele, do ponto de vista estratégico, ainda faltam incentivos. “Nesses primeiros meses do ano importamos álcool produzido a partir do milho dos Estados Unidos, isso é uma vergonha. O Brasil possui uma capacidade muito grande de produção de cana-de-açúcar e produção de açúcar e álcool ter que importar etanol não é algo a se orgulhar.”
A queima do bagaço de cana polui o ambiente, mas o pesquisador afirma que a produção do álcool de segunda geração é mais benéfica ao ambiente. “É sem duvida 80% menos poluidor do que a queima da cana. Isso seria altamente benéfico pra sociedade.”

Para realizar a pesquisa, o professor fez algumas entrevistas, inclusive com o ex-ministro da agricultura Roberto Rodrigues, esteve em plantações de cana-de-açúcar, em usinas, conversou com pessoas que entendiam do assunto e adquiriu informações em bibliografias de vários autores.

Existe uma grande chance de no futuro reaproveitarmos o lixo. Do lixo podemos gerar energia elétrica também, é possível que no futuro sejamos adaptados para transformar todo o lixo em uma outra coisa”, finaliza.

Aline Xavier e Fernando Santos são estudantes do
Curso de Jornalismo do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio

Elio Ferrato é doutor em Engenharia
de Produção e professor no Ceunsp



Som e imagem combinam-se para compor a magia do cinema



Jéssica Nascimento
Luís Eduardo Caricatte

(AECA Ceunsp Ciência) Imagens, sons, músicas e movimentos são as ferramentas utilizadas em filmes e analisadas por Filipe Salles, formado em Cinema pela FAAP, mestre e doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Salles, professor e coordenador nos cursos de Comunicação e Artes do CEUNSP, desenvolveu seu mestrado baseando-se no filme Fantasia (1940) de Walt Disney. Ele realiza um estudo sobre a afinidade entre som e a imagem: “Escolhi esse filme porque eu gosto desde criança. No filme Fantasia foi a primeira vez que encontrei a perfeição entre música e imagem de forma inusitada e bem harmônica”, justifica.

Na sua dissertação o professor mostrou a importância entre a trilha sonora e as imagens de um filme. Segundo Salles, som e imagem trabalham em plena sintonia. “O som faz parte da imagem assim como a imagem faz parte do som”, completa o pesquisador. É difícil encontrar filmes onde não esteja presente nenhum tipo de som ou música, os que existem causam certo “estranhamento”: quem assiste percebe que está faltando algo, mas de imediato não consegue identificar o que. “Todos os filmes de forma geral usam a música, porque ela enfatiza uma ação dramática”, afirma Salles que completa: “É muito mais fácil, por exemplo, criar uma sensação de terror com uma trilha sonora de fundo do que somente a imagem sendo exibida”. Salles ainda esclarece que a música dá uma ênfase muito grande à narrativa por isso é tão comum fazer essa junção.

Hoje há mais facilidade de assimilar e compreender a necessidade que imagem e música têm uma da outra, devido ao avanço tecnológico. E no passado? Como faziam os diretores de filmes que não possuíam estes recursos? O pesquisador esclarece essas dúvidas, citando o filme analisado em seu mestrado: “Fantasia me fascinou, pois foi feito em 1939 sem recursos eletrônicos. Os desenhos foram feitos a mão e a música foi gravada com uma orquestra, sem nenhum tipo de som estéreo, o que resultou num filme com harmonia perfeita”.

Na conclusão do seu mestrado o professor revela que é necessário ter alguns cuidados para conseguir a combinação ideal entre som e imagem: “É bom ter sensibilidade, tem que saber equilibrar na balança a mensagem que você quer repassar ao público, e a sensibilidade cuida disso, é claro que dentro disso você tem que ter repertório e saber relacionar estilos”, finaliza.

Jéssica Nascimento e Luís Eduardo Caricatte são estudantes
do curso de Jornalismo do Centro Universitário Nossa
Senhora do Patrocínio (CEUNSP)

Filipe Salles coordena os cursos de
Cinema e de Fotografia no Ceunsp