segunda-feira, 28 de maio de 2012

São Paulo e Pernambuco e os conceitos de pobreza e riqueza na história do Brasil


Larissa Santos 


(AECA CEUNSP Ciência) Pobreza e riqueza. Vemos isso no nosso dia a dia. Uns tem mais outros tem menos. Mas como era tratada essa questão por volta do século XVII, entre as cidades de São Paulo e Pernambuco?

Sobre este tema se debruçou a professora do Ceunsp Milena Fernandes Maranho, 36 anos, licenciada e bacharel em História desde 1997, pelo IFCH / UNICAMP. Ela estudou a questão em seu doutorado, defendido na USP, em 2006, que teve como título: “O moinho e o engenho: São Paulo e Pernambuco em diferentes contextos e atribuições no Império colonial português (1580 – 1720).”

Segundo Milena, o objetivo do doutorado foi a apresentação de um contraponto à historiografia que versa sobre a constante comparação entre São Paulo e Pernambuco durante o período colonial da História do Brasil. A região paulista é geralmente associada à “pobreza geral", enquanto a Capitania de Pernambuco é vista como sendo de “riqueza ilimitada” e de muito mais importância para a coroa portuguesa. A historiadora, além disso, busca a desconstrução de uma ideia que colocava essas regiões em uma situação de quase ausência de contato, já que se acreditava serem mais constantes as relações entre o Nordeste do Brasil e Angola, devido ao tráfico africano, do que com São Paulo, “isolada e independente”.

A professora explica que, durante a pesquisa, encontrou vários momentos nos quais São Paulo auxiliou Pernambuco com o envio de mantimentos, principalmente farinha. Eram momentos críticos, como a Invasão holandesa ocorrida entre 1630 e 1654 e a guerra dos bárbaros, que tiveram longa duração.

Milena relata que no século XIX, com as discussões sobre qual região tinha maior destaque na história do Brasil, para enfim comandá-lo politicamente, o debate versava sobre os primórdios do sentimento de nacionalidade, de “pertencimento” à nação, dos brasileiros. São Paulo, com sua pobreza, mas com “homens rudes” que haviam desbravado o território, ou Pernambuco, com sua riqueza, que havia oferecido as condições para o desenvolvimento do Brasil.

Em cada época temos um produto que garantia o status de rico ou pobre. ’’Os metais sempre foram os preferidos e os mais procurados, mas o açúcar passa a ter uma importância cada vez maior no mercado europeu, principalmente a partir do final do século XVI, devido a condições econômicas que envolviam a expansão comercial europeia e a entrada de novos produtos advindos do Oriente”, diz Milena.

Por outro lado, São Paulo chegou a produzir açúcar entre o final do século XVI e o início do XVII, mas devido à distância do Porto de Santos, esse açúcar perdia em qualidade se comparado ao de Pernambuco e Bahia. “Ha também o ouro que foi encontrado na região que hoje conhecemos por Minas Gerais, e esta passou a ser o foco das atenções a partir do século XVIII”, ressalta.

Mais tarde, é o café que despontará no cenário econômico brasileiro, “mas isso não quer dizer que ‘ciclos econômicos’ tenham existido, já que o açúcar nunca deixou de ser produzido, o ouro foi encontrado em menor quantidade antes do século XVIII e neste mesmo século já temos produção de café em Pernambuco’’, explica a historiadora.

Milena questiona a determinação – que muitos veem -- destas diferenças na conformação da nossa sociedade nos dias de hoje. ‘’ O que eu costumo dizer para os meus alunos é que não podemos atribuir a culpa de características de nosso tempo às gerações passadas. Se herdarmos certos legados, como a burocracia excessiva, por exemplo, cabe a nós mesmos modificarmos essa situação. Cada sociedade deve ser entendida em sua própria época’’, finaliza. 


Larissa Santos é estudante do curso de Jornalismo do Centro Universitário
Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP)


Milena Fernandes Maranho é doutora em História

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