Fernando Santos
(AECA CEUNSP Ciência) Ter que fazer uma investigação
minuciosa para encontrar críticas jornalísticas que já foram dadas
como perdidas no tempo e na história. Parece filme ou tarefa de
detetive. Mas, foi o que a professora do Centro Universitário Nossa
Senhora do Patrocínio (CEUNSP), Angela
Maria Gonçalves da Costa, 37, fez em sua tese de doutorado em teoria
e história literária pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), em 2006. O trabalhou levou o título de “Uma trajetória
do esquecimento - o
poema A Nebulosa, de Joaquim Manuel de Macedo, e sua recepção
critica”.Tudo começou do desejo de resgatar o poema que ficou esquecido. A professora conta que antes de ser romancista o autor foi poeta e depois que escreveu “A Moreninha” caiu no gosto popular. “Ficou romântico e se tornou o queridinho dos escritores. No entanto, a sua poesia ficou esquecida”, lembra Angela.
“Quando lançada em 1857, a poesia A Nebulosa fez grande sucesso e os jornais comentavam a obra. Com o passar dos anos, por volta da década de 1860, como ele já havia escrito A Moreninha na década de 1840 e caiu no gosto popular, começou a escrever romances um após o outro e esqueceram-se do poema dele”, conta. A tese da professora traz à tona a importância de Macedo não só como romancista, mas também como poeta.
A pesquisa trabalha com a fortuna crítica da obra. Angela resgatou tudo o que foi falado sobre a poesia, da primeira notícia que, de acordo com ela, foi através do Correio Mercantil, até a última que se tem a respeito em jornais, revistas e críticas literárias.
No século XIX era através dos jornais que chegavam informações e também as obras literárias. Segundo a professora, as críticas jornalísticas faziam trocas de elogios entre os autores para promover a obra de cada um, os panegíricos.
No inicio do trabalho a professora conta que foi difícil encontrar a crítica de Bernardo Guimarães que não fazia elogios à obra e sim uma análise, mas que havia desaparecido. “Eu sabia pelas pistas que ela estava em um jornal chamado A Atualidade do Rio de Janeiro, fui até a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro à procura do jornal, mas ele não existia mais. Procurei em Minas Gerais porque o Bernardo Guimarães é de lá, mas também não encontrei”, relata.
Voltou para a Unicamp e a orientadora indicou um arquivo de jornais microfilmados. Foi que encontrou as seis críticas feitas no jornal A Atualidade. “Foram documentos essenciais e inéditos que sem eles não havia como fazer uma crítica do romantismo brasileiro hoje”, comenta.
De acordo com a professora esse esquecimento se deve ao fato de que era muito mais interessante para os leitores as histórias que apresentavam verossimilhança com a vida delas do que ler poesia, que é mais difícil e requer mais atenção do leitor. “É como as novelas hoje”, compara.
A professora revela que vai fazer com que a memória do poema não seja esquecida. “Estou fazendo uma reedição, sai esse ano. É A Nebulosa, com uma introdução minha, pela Ateliê Editorial, para um público universitário.”
A professora finalmente cumprirá com o desejo de resgatar o poema esquecido e A Nebulosa vai voltar às estantes.
Fernando Santos é estudante de Jornalismo
do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP)
Angela Gonçalves da Costa é doutora em Teoria Literária
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